quinta-feira, 8 de julho de 2010

Despeço-me

Estou passando pelo ritual de despedida! É maravilhoso ver tudo o que eu queria se concretizando, mas a dor de perder a rotina junto das pessoas que eu amo faz com que eu sinta a presença constante da dor, de uma tristeza sem explicações, que dói por pensar em sentir. Tardiamente vou deixar o ninho, e como boa canceriana, se pudesse, adiaria mais ainda esse vôo se soubesse que a falta seria gélida ainda mesmo sem sair de casa. Digo que vou mudar de cidade, estado, mas não de casa, a minha casa é onde estão as pessoas que eu amo, onde estiverem elas, estarei em casa.


Estou assim, fechada no meu mundo, por que tudo é um ritual de despedida, despeço-me do boa noite do meu pai todas as noites antes de dormir, do bom dia da minha mãe, abraçando-me, chorando, dizendo que vai sentir muito a minha falta, dos beijos e abraços de pescoço do Francisco, e do sorriso solar do João, daqueles que olhamos e pensamos: “ como é bom viver, só pra te ver” e das conversas, olhares, revelações, da minha irmã Carol, a qual eu admiro sem vergonha. Sei que vou sentir falta até mesmo dos ataques noturnos em dia de lua cheia da coração, latindo sem me deixar dormir, e dos miados do meu velho bichano, exigindo carinho.

Ontem a noite, insone, pensei na falta que todas essas coisas vão me fazer, e do medo que estou sentindo, é um medo, mas é também a coragem de uma menina que não consegue crescer. Faz pouco tempo que me descobri mulher, tirei do meu próprio olhar a imagem infantil que carregava sobre mim.

Não consigo explicar as mudanças que aconteceram, porem sei que elas aconteceram. Já não teria coragem hoje de fazer as coisas que já fiz, entretanto tenho coragem para fazer outras coisas, diga-se de passagem, bem mais gratificantes.

O ritual de despedida dói! E trás a tona muitas coisas que já vivi, vivencias que quero esquecer, mas que sempre lembro, por que faz parte de mim, queira eu ou não, e tudo faz parte de um ciclo clichê, errar, aprender,errar, aprender, errar, errar, errar... é divino pensar que podemos aprender com os nossos próprios erros, achei que isso fosse besteira de mãe e pai, mas é a mais pura verdade, e para isso precisa-se apenas viver!

Olho no espelho do banheiro e encaro essa minha face medrosa, meio sem querer olhar, e vejo que as gotas de suor exalam nostalgia. Tornei-me chata nesses dias, é tudo culpa do ritual de despedida, choro, grito, berro, choro de novo...

Temo ter que sair de casa com uma placa: “ em ritual de despedida”

Despeço-me da grama, das casas dos vizinhos, das paredes do meu quarto, do gosto do cigarro fumado junto com o meu pai, das lagrimas dos meus irmãos, dos desabafos da minha mãe, despeço-me de uma parte da minha vida, parte essa que não vou mais estar assim, 24 horas por dia presente para poder cuidar, acalentar, segurar pra ninguém machucar-se.

Espero que a vida por lá seja mais feliz do que a vida que tenho aqui!

Estou em ritual de despedida.


Para as pessoas para quem eu docemente vivo...



Mariana Moro da Silva

3 comentários:

deh. disse...

despedida sempre tem aquele quê de saudade, incerteza e nostalgia.. um gostinho meio doce e meio triste.

que tudo seja lindo pelo novo caminho a ser seguido..

beijos!

Carolina disse...

Mari, mais uma pessoa interessantísima que deixa SM... te desejo tudo de bom nessa jornada, e que tu conquiste quem quer que seja por onde tu passares, com esse imenso talento.

Just me. disse...

owwwwn choray :~
mesmo
UHEIEUHEUI
vou sentir saudaaades :~