segunda-feira, 29 de março de 2010

Rodando

Ventava forte. Belo dia você resolveu voltar. Fazia frio, muito frio, as gotas de água quase tornavam-se brancas, e eu estava a te esperar. Capa longa preta até os pés, luva, várias meias, manta, tudo negro, como o de costume.Tentei me aquecer de todas as formas possíveis, mas meu corpo permanecia gelado, era o nervosismo, a ansiedade em lhe ver, o ataque cardíaco estava no inicio, coração batia tão rápido ou quase parava, eu não sei definir, não era uma coisa boa, não, não era, eu queria que isso acabasse logo, mas ainda demoraria pra você chegar, fui cedo, muito cedo, praça, um banco, algumas carteiras de cigarro e uma discreta garrafa de whisky pra passar o tempo. Na verdade não lembro de termos combinado hora, lembro apenas do dia, mês, e ano, jamais esqueci. Então, durante todo esse dia eu iria permanecer ali a sua espera, mesmo que não acreditasse muito que você voltaria, mas sabe como é, sempre tive essa coisa pulsando dentro de mim, confiar até o prazo terminar, as palavras que dito não são ao vento.


Sentei-me no banco, protegido pela aquela coisa de que sempre falávamos, mas esqueci o nome dela agora, um circulo, com um teto, redondo, o teto. Enfim, é muito mais bonito do que descrevi, lógico.

Baby, a cidade estava vazia, como se tornou pra mim quando você partiu, mas nesse caso era eu quem não notava a presença de ninguém, também, pudera, quem sairia em pleno inverno, frio, vento, e gotas de chuvas quase brancas pelas ruas, só os apaixonados e os bêbados, ou os bêbados apaixonados, porém esses são sozinhos, bem, eu estava como eles, a garrafa de whisky na mão não deixaria eu contradizer-me.

Enquanto o tempo passava, pensei em tantas coisas, em todas as coisas que já ousamos falar, direcionamos tantas ferocidades um ao outro, mas baby, passamos tantos momentos juntos, únicos, mágicos, de uma pureza nem um pouco sacra. Seu sorriso, foi a única coisa da qual fiz questão de guardar aqui dentro, aqui sabe baby, nesse lugar aonde passa um filme sem que ele seja gravado, aonde eu posso guardar tanta coisa que não quero mais, e fica assim, apertado, doido de tanta lembrança amarrotada num só lugar pelo simples orgulho, ferido, diga-se de passagem, porém orgulho. Via o seu sorriso que era pra ver se surgia algum dele no meu rosto, mas não me olhava no espelho pra isso, não surgiriam sorrisos bonitos no meu rosto. Não mais.

Durante a noite, baby, eu implorava por você. As lembranças insistiam em fugir durante as noites chuvosas, eu chorava, eu chorava de dor, raiva, saudade, baby, eu chorava de saudade.

Eram poucas as ligações, embora você tivesse dito, e tivesse feito com que eu acreditasse fielmente, que me ligaria todos os dias. A primeira ligação só foi acontecer por que eu, quase morto de ansiedade, fiz questão de lhe procurar, em vão, pois liguei a fim de ouvir declarações, gritos de saudade ao telefone, e o que ouvi foi o susto na sua voz ao ouvir a minha, tornava-se repetitiva, “ e ai, como está? Alguma novidade?”, sem saber como lhe tratava, deixava escapar um “amor” em meio as minhas perguntas sedentas de carinho, envergonhando-me do outro lado da linha. As tuas perguntas me soaram irônicas nesse dia, desde então, nunca mais fiz questão de lhe telefonar. Você também não fazia.

Tentei manter uma certa ordem na minha rotina, tirando você dela. Comecei aos poucos, certo de que no final você teria sumido completamente da minha vida, foi como um tratamento contra qualquer tipo de dependência, eu tinha crises de abstinência, contorcia-me durante a noite, chamava teu nome, sussurrava pequenas palavras de amor.

Dei-me conta de que amava bem mais do que imaginava ser amado, em pequenas atitudes minhas das quais, por deus, desejei jamais ter-las feito, como aquela vez, na qual desesperadamente fui lhe encontrar, quis fazer feito cena de filme, sai correndo na chuva, em meio as pessoas me olhando nas ruas movimentadas da cidade em plena terça-feira as 14 horas, não tinha como lhe avisar que demoraria, que tive meus contratempos, mas por você, eles não existiam, era você quem me importava, e eu fui, deixando de lado a minha timidez, correndo, correndo, com a confiança de que você estaria me esperando lá, no local combinado, na hora combinada, com um sorriso estampado no rosto, e daríamos um beijo molhado, acompanhados de olhares fraternos, por que eu não me importava em estar todo molhado, nem que metade de cidade estivesse me achando um maluco, desvairado, se fosse por você, se você estivesse ali. O corpo molhado só foi me preocupar quando vi que você não estava lá. Completamente sozinho, para aonde eu iria? Não me passou pela cabeça essa possibilidade. Só não poderia imaginar que isso lhe importasse tanto.

Cenas de filme não dão certo.

Eu te amei tanto, pensava ali, sentado naquele banco, agüentando o frio, o vento sobre meu rosto, eu te amei tanto, eu te amei tanto...

Me perdi dentro de ti, não me encontrava mais, entrei em desespero, quem sou eu? quem verdadeiramente sou eu? Eu não tinha respostas.

De repente, um estalo inefável surgiu, olhei a minha volta, olhei verdadeiramente a minha volta. Olhei para mim. Eu, um cara solitário, abandonado, tolo e inocente, a espera de alguém que nem mesmo conhecia mais. Havia passado tantos anos.

Levantei-me!

E fui ao cinema.

Se você voltou? Não sei. Mas o filme que assisti era muito bom.



Um comentário:

Carolina disse...

nossa.. sou mt tua fã! esse texto tá mt tri, parabéns Mari :D