sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Caixa mágica

Loucura! Pensou na hora em que embarcava no ônibus. Que história de amor mais distante, ouviu de um amigo, o único que ainda era amigo, ao dar o abraço de despedida. Que tudo dê certo, pense – nada é loucura quando é feito por amor. Embarcou com essa frase na cabeça, de fato nada é loucura quando é feito por amor.
É amor? Perguntavam-se todos se aquilo teria um fim, era o que eles queriam, e insistiam, isso não é amor. Alguns se afastaram, alguns riam ao vê-lo passar feliz ao telefone, de alguns, ele mesmo fez questão de se afastar, ao ouvir conselhos fajutos e lições de moral do tipo, você não tem certeza de nada nessa vida, você não sabe o que é o amor, isso não passa de uma historinha adolescente ou o pior de tudo, não levo a sério essa tua história.
De fato eles não se viam todos os dias, nem mesmo podiam passar o final de semana juntos; nas festas às vezes iam sozinhos, depois de um tempo sair já não tinha graça.
Ninguém compreendia.
A questão era que durante meses aquele sentimento foi se tornando maior do que talvez eles esperassem, ganhavam o dia só de ouvir o suspiro de um no outro lado do mundo em cada ligação, esperada, marcada. Viviam juntos, embora separados do toque sutil da mão do outro ao acordar. No telefone, por muitas vezes falavam ao mesmo tempo a mesma coisa, achavam graça, e riam da casualidade tão destinatária.
Choravam, muitas vezes, ao falar desse sentimento tão surpreso, deveriam ali aprender lidar com isso, pois tudo era novo. Tudo ali era novo!
São muitos os que foram fracos, e por medo abriram mão de uma felicidade talvez completa, talvez, por que nada é completo. Alguma coisa sempre falta.
Eles mesmos já pensaram nisso. Em largar um ao outro. Seria em vão. Encontravam numa música o tom exato do outro. E na respiração, a sintonia do outro, e prontamente ligavam-se, ao entardecer, só pra ter certeza de que o outro estava lá, de que nada havia saído do lugar.
Muitos foram os momentos de solidão, de um medo um tanto quanto estranho, da força daquilo que nem mesmo eles entendiam, mas sentiam, e isso bastava. Entender o que se sente custa caro.
Encontraram-se na rodoviária, Casablanca, ultima cena, partiu em passos lentos em direção aquele eu, o qual ele tanto esperou, em passos lentos encontraram-se, e sem notar a multidão que, abismada, cuidava a delicadeza da cena, beijaram-se.
Loucura! Indagaram ao mesmo tempo. E riram. Por fim juntos.

2 comentários:

gica beerhouse disse...

muito lindo. é aquele tipo de conto que tu termina de ler, respira bem fundo até encher os pulmões e solta o ar bem devagar... uma satisfação. *-*

Laura Reis disse...

idem gica.